Pois é, essa é uma
pergunta que até pouco tempo atrás a resposta era não, porém atualmente, as novas pesquisas
na área da genética e biologia molecular já tendem a responder que sim, pode.
Então, dentre os
fatores que vem engordando a população mundial de maneira exponencial já conhecidos, como a mudança no hábito alimentar e o estilo de vida
sedentário do homem moderno aliam-se a estes determinantes genéticos que estão sendo cada vez mais desvendados pela ciência e já com evidências bastante contundentes e assim esses três fatores juntos desempenham o papel mais relevante na gênese da obesidade e isso se torna muito importante para
novas estratégias de prevenção, controle ou tratamento desta doença, a qual
deve bater a casa dos 50% da população nos Estados Unidos e 25% no Brasil, até
2025 segundo a OMS.
Tal avanço, bane
de forma perene julgamentos preconceituosos em relação ao obeso e o conceito de
que a doença é fruto apenas de “uma falta de vontade para comer menos e
praticar mais exercícios” cai por terra, pois o fato é que a obesidade “é tão geneticamente determinada
quanto a altura de um indivíduo, além disso, a obesidade depende mais da
herança genética do que várias outras doenças, como esquizofrenia, doenças do
coração ou câncer de mama, pois possuímos uma rede genética que regula nosso
peso corporal com uma precisão de 4.5 até 9 quilos. Sempre que diminuímos a
ingestão calórica, esta rede é mobilizada para reduzir o gasto energético, ao
mesmo tempo que estimula a fome” este exposto foi extraído na íntegra do primeiro capítulo da excelente obra; Obesidade e Diabetes, Fisiopatologia e Sinalização Celular, dos Drs
Dennys Speria, Rodrigo Pauli e Eduardo Ropelle da Unicamp com a colaboração do Dr Marco
Antonio de Carvalho Filho para enfatizar a importância
dessa temática para que possamos entender que a obesidade é uma doença complexa
e a reformulação de sua base de estratégias de tratamento e entendimento se fazem
necessárias a começar pelo não julgamento do obeso, pois este tem tanto controle
de sua adiposidade, quanto o hipertenso sobre seus níveis pressóricos, ou seja,
quase nenhum.
E para você entender
um pouco de como esta rede genética se formou e colabora com o quadro atual da obesidade
no mundo, é muito interessante você conhecer as duas principais teorias que dão
base para isso, as Teorias do Genótipo Econômico e da Libertação do Predador e
também um novo horizonte sobre o elo de ligação ancestral que possuímos com a
obesidade, o qual tem haver com a relação entre tecido adiposo e sistema imune.
Genótipo Econômico
Publicada em 1962
no American Journal of Human Genetics, Neel et al, a teoria do genótipo econômico
explorou a ideia de que indivíduos com maior capacidade de acumular energia em
períodos de escassez alimentar estariam mais aptos à sobrevivência. A teoria
estabeleceu que em tempos de carência alimentar àqueles que possuíam maior
capacidade de absorver e estocar nutrientes sobreviveriam e assim os indivíduos
foram naturalmente selecionados e geraram herdeiros com as mesmas características genéticas e
dessa forma essa “rede de gens econômicos” ainda está presente em nosso
organismo sendo responsável por:
- Grande capacidade de acumular energia em forma de adiposidade;
- Capacidade de poupar energia em períodos críticos;
- Habilidade de desligar passagens metabólicas essenciais;
- Capacidade de ingerir grande quantidade de alimento sempre que este estiver disponível.
Teoria da Libertação do Predador
Embora a teoria
do genótipo econômico seja bem aceita, alguns pesquisadores questionaram o fator
“atividade física” não ter sido considerado durante a sua elaboração, então, outros estudos vieram a explorar esta tese e em 2007, o biólogo John Speakman
publicou a “teoria da libertação do predador”, ela é fundamentada por estudos antropológicos,
epidemiológicos, rastreamento genético e pesquisas experimentais, onde
basicamente ela preconiza que uma rede genética foi importante para manter o
desempenho físico de nossos ancestrais, mantendo a capacidade física para a
busca de alimento e fuga de predadores. Desse modo, postula-se que maior
destreza proporcionada por menor peso corporal teria sido decisiva para a
seleção dos sobreviventes, isso fica ainda mais evidente depois da descoberta,
a partir de estudos arqueológicos, que após a descoberta do fogo no período
paleolítico houve um aumento significativo do peso corporal ao longo dos
tempos, uma evidência que isso promoveu uma facilidade maior na conquista e
consumo de alimento e por manter os predadores afastados reduzindo
significativamente o gasto energético ao longo dos anos. Além deste, outros
estudos reforçam essa teoria, como em experimentos onde animais colocados em proximidade a seus
predadores desenvolveram resistência a ganhar peso, já em um estudo com tribos
africanas no Quênia e Etiópia, cujas quais mantem hábitos semelhantes aos seus
ancestrais, a sua população tem IMC entre 17.8 e 19.1, cujos quais são considerados bem baixos em relação aos níveis tidos como
normais, em fim, essa teoria sugere que a rede genética responsável
por essas características tenha sido suprimida e perdida ao longo dos milênios
pela facilidade e manutenção da vida conquistada pelos nossos antepassados a
partir da descoberta do fogo, armas e das revoluções industriais e tecnológica e pela demanda
cada vez menor de energia gasta pelo homem em detrimento à grande oferta de
calorias e como se não bastasse, de calorias de baixíssima qualidade como vemos hoje, por exemplo, na dieta da sociedade ocidental, a qual apresenta alimentos cada vez mais
industrializados, cheios de química, refinados e pobres em nutrientes funcionais.
Sistema Imune
Outra hipótese
que vem sendo muito estudada e que reforça o arcabouço para o entendimento da
obesidade é a relação entre sistema imune e ganho de peso, pois a partir de um
estudo de 1996 em moscas Drosophilas, quando foi identificada a família dos
receptores Toll-Like (TLR-4) nas células adiposas desse animal, foi observado que lá estava a ponte
entre o sistema imune e o sistema metabólico e assim foi elucidado que o tecido
adiposo, antes considerado um mero armazenador de gordura, tem a capacidade de
produzir substancias que até então eram classicamente produzidas pelo sistema
imunológico. Logo adiante em pesquisas mais atuais perceberam que o tecido adiposo hipertrofiado (aumentado/obesidade) gera um
sinal através dos TLR-4 (hipótese mais aceita é que pela semelhança que há
entre os ácidos graxos de algumas bactérias o excesso de ácidos graxos pode
gerar o mesmo reconhecimento) gerando uma resposta imune provocando uma
inflamação de baixo grau tornando à célula adiposa suscetível à ação de macrófagos, comprometendo assim o metabolismo da insulina tornando então a célula resistente à
mesma, sendo exatamente essa a função descoberta através dos estudo com a
Drosophila e essa memória ancestral
presente no tecido adiposo vendo sendo considerada o elo de conexão entre o
sistema imunológico e o desenvolvimento da obesidade.
Doenças Gênicas
Além dos aspectos
supracitados, cujos quais, todos temos relações, também existem as doenças gênicas
propriamente ditas, ou seja, aqueles tipos de obesidade relacionados com a
mutação dos genes envolvidos nos processos de ganho e/ou regulação do peso como
por exemplo: mutações em genes que afetam a ação da lepitina-melanocortina, mutações
em genes que afetam a ação do desenvolvimento do hipotálamo, associações de genes
candidatos, ou seja, relações entre um ou mais polimorfismos pois a obesidade é
“uma mão” de várias vias metabólicas.
De Hoje ao Futuro: Epigenética
A epigenética é
descrita como um fenômeno responsável por mudanças hereditárias na função do
gene, que ocorrem sem que haja mudança na sequencia de nucleotídeos, ou seja, a
ciência que pretende esclarecer como fatores ambientais (hábitos alimentares,
estresse, atividade física) podem interferir no funcionamento dos genes mesmo
sem produzir mutações na sequência do DNA, pois fatores ambientais podem ser
mais determinantes na gênese de uma doença do que a presença do próprio gene
predisponente e assim, estudos dentro dessa área serão decisivos e incidirão
novas perspectivas sobre o papel de novos medicamentos, novas dietas e
programas de atividade física.
E dentro dessa
visão, não podemos nos deixar ao acaso do acaso e sermos levados pela tendência
de que vamos engordar mesmo e ponto, muito pelo contrário, pois a partir desse
entendimento e mesmo tendo muito a ser descoberto ainda sobre o papel da alimentação
e dos exercícios físicos no funcionamento dos genes, sabemos que é ponto pacífico os benefícios desse binômio poderoso sobre a obesidade, no tratamento da doença no
controle e principalmente na sua prevenção durante a vida, principalmente nas fases do desenvolvimento humano que compreendem aos período intrauterino até por volta dos 16 anos de vida.
Portanto, ter o
hábito de fazer exercícios físicos de 4 a 6 vezes por semana de forma moderada
a intensa e alimentar-se de maneira mais qualitativa balanceando nutrientes e calorias, até que se encontre a “pílula mágica”, são e continuarão sendo, as
melhores prescrições não só para o combate à obesidade, mas para uma boa saúde
geral do indivíduo.
Mova a si mesmo!
Bons treinos.
Thiago Ribas
Referência: Obesidade e diabetes: fisiopatologia e sinalização celular. Cintra, E.D.; Ropelle, E. R.; Oauli, J.R. São Paulo: Sarvier, 2011.
Referência: Obesidade e diabetes: fisiopatologia e sinalização celular. Cintra, E.D.; Ropelle, E. R.; Oauli, J.R. São Paulo: Sarvier, 2011.
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